Pouco mais de um mês após o IPO do Facebook, a sensação é amarga. No fechamento do mercado, segunda-feira, a ação valia US$ 30,77. Foi lançada a US$ 38 no dia 18 de maio, chegou a subir um pouco nas primeiras horas e aí despencou para nunca mais. Chegou a encostar nos US$ 25, no início de junho. A Apple, empresa boa e velha erguida em tijolos sólidos, que vende produtos que podemos segurar nas mãos, vale no mercado de capitais 14,4 vezes mais do que fatura todo ano. A Google, empresa que opera na nuvem mas vende propaganda muito bem já há muitos anos, vale no mercado 17,6 vezes mais do que seu faturamento. O Facebook? A bagatela de 72 vezes. É o suficiente para muita gente dizer: foi um fiasco, enganaram muita gente, agora não tem mais volta.
Estão errados. Mas ainda vai demorar muito tempo para que isso fique claro. Mark Zuckerberg, porém, é o melhor candidato a novo Steve Jobs que há no Vale do Silício.
Parte da profunda desvalorização do Facebook desde sua estreia não é de sua responsabilidade. A Nasdaq cometeu uma série de erros. Começou com sua incapacidade de gerenciar tantos negócios simultaneamente. O mercado abriu, os servidores caíram. No pregão eletrônico isso quer dizer operar às cegas. Durante eterna meia hora, ordens de compra e venda foram disparadas sem que ninguém soubesse o que estava acontecendo. Quando finalmente voltou ao ar, todas as negociações foram feitas simultaneamente. Como a insegurança reinava, a maioria era de ordens de venda. A impressão imediata era de que todos jogavam na desvalorização. Mais vendas, mais vendas. A confiança no papel se foi.
Nos dias seguintes, a Nasdaq disse que indenizaria quem se sentiu prejudicado. Resultado: uma onda de processos, causando a impressão de que havia um engodo naquele negócio em particular. Mas há erros do próprio Facebook também. Informação ruim sobre o semestre foi compartilhada com alguns investidores graúdos, mas não foi tornada pública para todos. Inclua-se na lista um cenário de insegurança financeira no mundo e, de fato, a valorização extremamente agressiva de uma empresa que ainda não se mostrou capaz de fazer muito dinheiro. O resultado não poderia ser outro: tem cara de fiasco. Se antes tinha gente achando que havia perigo de bolha no Vale do Silício, a sensação agora é distinta. Sobra só desconfiança sobre o que vem de lá.
Neste fim de semana que passou, o Instagram ficou fora do ar por algumas horas. Motivo de piada no Twitter: usando o código “Instagramporescrito”, pessoas descreviam em texto as fotos que gostariam de ter tirado. É piada recorrente na rede. No Twitter, em seu princípio, vez por outra pipocava uma tela com o desenho simpático de baleia. Os usuários experientes logo entendiam o recado: o Twitter está fora do ar. Todos os serviços da internet foram vítimas dessas dores de crescimento, até a Google. Em seus primeiros anos, vez por outra o tranco do crescimento não era suportado, e o site caía. Todos, menos o Facebook.
Mark Zuckerberg tem 28 anos, mas conseguiu controlar o crescimento de sua empresa evitando sempre que saísse do ar. Isso mostra uma maturidade técnica e uma atenção à estratégia ímpares. Zuckerberg também trabalha. Trabalha tanto, de forma tão obsessiva, que sua então namorada, atual mulher, teve de impor algumas horas de convívio por semana como precondição para o relacionamento. E trabalha bem. Tem uma visão de como uma rede social deveria ser, do que precisa para engajar, do que as pessoas esperam.
Muitas redes sociais disputaram o espaço de maior de todas. Só uma chegou lá, num crescimento contínuo e firme. Hoje, é muito difícil destronar.
Talvez demore. Seu problema é computacional. É que o mundo não está transformado, ele está se transformando. A tecnologia para colocar a propaganda certa na cara do comprador ideal ainda não existe. Pode demorar um par de anos ou uma década, mas essa tecnologia existirá. E só há dois capazes de colocá-la em prática: Facebook e Google. Por enquanto, só o Facebook tem um acompanhamento íntimo do comportamento de pessoas na internet. A Google investe no Google+ para chegar lá. Talvez chegue.
Enquanto não acontece, o Facebook tem dinheiro de sobra nos cofres para se sustentar. Tem todo o tempo do mundo.
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